Uma verdadeira campeã. Ela é como o fogo. O tipo de pessoa que você quer ao seu lado quando está "contra a parede" . Essa verdadeira "força da natureza" chamada Aline, existe em um compacto corpo de 1.63m e 60kg de puro músculo, coração e coragem. Era uma manhã de sábado em Setembro de 2015, às 9:57 da manhã recebi uma mensagem de texto de uma amiga: Menos de um ano depois, eu vi minha ex companheira de time e mentora se apresentar no maior palco do mundo: os Jogos Olímpicos de 2016. "A história da Aline é marcante. Como treinadora de goleiras da UCLA e ex-jogadora de destaque na Universidade Central da Florida, ela assistiu pela televisão o Brasil jogar na Copa do mundo e decidiu tentar retornar à Seleção Brasileira e ir para as Olimpíadas. E ela conseguiu, superando a goleira titular da copa do mundo, Luciana, e conquistando a posição de reserva no gol do Brasil" Apesar do triste resultado final, a Seleção Brasileira ainda assim saiu vencedora: mereceu a medalha de ouro pelos olhos de sua nação, sendo apelidadas de "meninas de ouro". Nunca antes tínhamos visto um time titular e banco de reservas com tanto talento, e muito menos, tanta paixão e apoio vindo dos fans. Em resposta ao artigo de Wahl, nossa ex-treinadora da UCF e atual treinadora da UCLA, Amanda Cromwell, disse isso sobre a Aline: "A história da Aline nunca foi contada mas todo mundo deveria saber disso: sua motivação, determinação e paixão são inigualáveis. A Aline é a jogadora dos sonhos de qualquer treinador e a companheira de time que qualquer jogadora gostaria de ter" Realmente: ela é uma sonho de jogadora e de companheira de time. Se você teve a sorte de jogar no mesmo time que a Aline, você deve estar sorrindo ao ler isso, porque você sabe que é verdade. Ela ama tanto esse esporte que é impossível ficar perto dela e não se apaixonar por ele também. Sua paixão é contagiante. Os seus abraços são como remédio. A sua espiritualidade, compaixão e perspectiva sobre o mundo pode acender um fogo motivacional nos mais duros e desacreditados corações.
A paixão e a tenacidade dela, as vezes parece obsessão, como da vez que ela ensinou a si mesma como praticar snowboard. No meio do Colorado ela ficou em pé numa prancha pela primeira vez, sem a ajuda de ninguém, nem de instrutores e nem dos seus amigos mais experientes. A primeira hora foi doloroso de ver: foram muitas quedas de cara na neve. A gente se segurou pra não ensiná-la mesmo que no final nós todos tivéssemos que ir para o hospital levar pontos. No final das contas, ela aprendeu como snowboard, e fazia muito tempo que eu não ria tanto, como ri com ela. No instante em que li as palavras da técnica Amanda Cromwell, percebi que poucas pessoas já tinham ouvido a história da Aline. Como ex-jogadora da liga universitária e agora como técnica, eu consigo entender muito bem o quanto é difícil para esses atletas chegarem ao alto nível. "Desistir" é algo que não existe no vocabulário deles. Atletas olímpicos vão atrás dos seus objetivos com tudo o que têm. Se você quer ser melhor do que a média, você tem que estar preparado para o sacrifício, dar sempre mais do que você é exigido, fazer mais do que esperam. Você tem que estar disposto a seguir em frente com o que se comprometeu a fazer, mesmo quando você está desmotivado ou sem vontade. Você acha um jeito de superar isso. Essa é a doce realidade, atletas podem passar anos - mais precisamente quatro anos - treinando metodicamente para o seu esporte e mesmo assim não conseguir ir as olimpíadas. Aline conseguiu em 9 meses. Muitos atletas de elite tem apoio de patrocínio, e acesso a variados tipos de especialistas e treinadores, que cuidam de cada pequeno fator de preparação: nutrição diária, composição corporal, treinamento de força, treinamento técnico, reabilitação e trabalho psicológico para determinado esporte. Aline teve que ser sua própria treinadora pela maior parte destes 9 meses. A maioria dos atletas de ponta tem treinadores que acreditam no seu potencial, dão todo o apoio necessário e defendem o seu nome a qualquer custo. No caso de Aline, alguns anos atrás, ela foi "rotulada" muito baixa para estar na Seleção Brasileira, pois sua altura não chegava aos padrões exigidos para a posição. Porém, em Setembro de 2015 ela tomou sua decisão. Ela sabia que tinha algo especial a oferecer para a seleção brasileira, sabia que podia acrescentar ao grupo e acreditou que ela teria a sua chance na hora certa. Foi então que a atleta procurou os especialistas que ela conhecia, aproveitou os recursos que tinha na UCLA, correu atrás de ajuda, e fez o que precisava ser feito com suas próprias mãos. Eu acho que nunca me deparei com uma jogadora tão disposta a fazer os sacrifícios necessários e tão comprometida com algo do jeito como ela foi. Não interessa se você tem um trabalho de tempo integral para sobreviver: treinar para as olimpíadas passa a ser o seu trabalho mais importante, ou você está se enganando. Você luta todo dia para melhorar seu condicionamento físico, sua técnica, ir pra academia, treinos, e depois repetir tudo de novo, dia após dia, disciplinadamente. Isso significa, que você tem que constantemente cuidar de todos os detalhes, como o modo que se alimenta, suas horas de sono e sua evolução. Dia e noite, semana atrás de semana ela fez o melhor dela para conseguir seu objetivo. Ela "abraçou" e confiou no processo, como se a jornada fosse sua própria recompensa: a cada meta de curto prazo alcançada, Aline se aproximava cada vez mais do seu objetivo principal. Aline prosseguiu fazendo esse malabarismo de horas de trabalho insanas, trabalhando como treinadora de goleiros e viajando constantemente com A UCLA para jogos. Durante muitas vezes teve que lutar contra a pressão do coração e da mente. Atletas olímpicos, assim como nos, também têm que lutar contra fatores psicológicos, tanto mentais quanto emocionais como ansiedade e auto confiança, além dos fatores físicos como a fadiga. É equivocado pensar que uma vez que você chega ao alto nível, você já sabe como lidar com tudo. Atletas olímpicos são seres humanos que passam pelos mesmos conflitos e distrações que o resto de nós, porém sob muito mais pressão. Enquanto a gente acompanhou a trajetória da Aline, os acontecimentos começaram a lembrar um pouco do desenho animado "Coiote e Papa-léguas", onde o coiote tenta de tudo para capturar o papa-léguas, mas no final, planos sempre vão por água abaixo no pior momento possível. Como no desenho, obstáculo atrás de obstáculo foram aparecendo no seu caminho de Aline. A começar pelo contrato de aluguel que venceu antes do seu retorno pro Brasil, o que forçou a Aline a morar de favor na casa de amigos. Muitos foram os acontecimentos, mas citarei alguns exemplos, como o acidente de carro durante a temporada, que resultou em ter que ir de bicicleta para todos os lugares por algumas semana, ou então o dia em que ela quase perdeu o dente da frente em um treino. Além da crônica tendinite patelar, ainda veio uma lesão grave no tornozelo. Os exames de ressonância magnética mostravam que ela teria que ficar afastada aproximadamente por 5 semanas para se recuperar. O fato de Aline ter ficado fora de alguns jogos pela Ferroviária devido à sua lesão no tornozelo, já colocava muita pressão para a Aline voltar aos gramados para um dos jogos mais importantes que as Guerreiras Grenás teriam. Mas apenas dois dias antes do jogo, uma séria doença quase arruinou as chances dela terminar a temporada e finalmente tentar a convocação para a Seleção. Ninguém sabia se era uma virose, intoxicação alimentar ou o mais preocupante: Dengue. Mas determinada a jogar, ela foi treinar no dia seguinte independentemente do que estava sentindo. Durante o treino, os sintomas dela pioraram e ela foi obrigada a ir para o hospital. Após tratamento intravenoso Aline foi liberada para voltar para casa naquela noite. Sem conseguir comer durante 48 horas por causa do vomito e disenteria, ela dormiu o máximo que pôde e lutando para salvar suas últimas energias para o jogo na quarta-feira. Um pouco antes da partida começar, a base de medicamentos e um pacote de sais minerais, Aline conseguiu encontrar forças para jogar. Pra acrescentar ainda mais ao drama, as expectativas naquela noite eram altas: ela tinha que ter uma grande atuação, superar tudo que estava sentindo pois os técnicos da seleção brasileira estariam estariam assistindo o jogo e de olho nela. O seu lugar na lista de convocadas ainda não estava garantido, e cada jogada era importante. Dar tudo de si é um conceito importante: significa dar mais do que você pode. Aline levantou naquela noite, e tentou não transparecer para ninguém o seu estado físico, nem para o seu próprio time. Motivadas pela força da goleira agindo como uma âncora, as Guerreiras Grenás lutaram para conseguir o empate de 1-1. Jovens atletas anotem: raramente vamos testemunhar alguém que consiga ter resistência física e mental como a Aline mostrou naquela noite. Nenhum obstáculo poderia deter Aline. Disciplina é constantemente pensar no que voce quer e no que precisa fazer para alcançar. Aline iria construir o sonho tijolo por tijolo: manhã, tarde e noite. Realizar algo significa centenas de marteladas, golpe atrás de golpe, pacientemente, até conseguir esculpir a escultura perfeita. Qualquer um que já aprendeu a tocar uma música, quebrou um record, ou finalmente completou uma maratona, entendem o significado do ditado: "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura" e valorizaram o valor da persistência na hora de conquistar um objetivo. Por que a Aline tomou essa decisão de retornar aos gramados? Por que ela decidiu se arriscar em tudo isso? Parece loucura. "... traçar um caminho com o coração". Foi isso que Aline se propôs a fazer quando decidiu retornar ao futebol. Ela prestou atenção à voz no seu subconsciente dizendo "você ainda não terminou". Aline é uma pioneira nata. Sempre foi. Começando nos campos de Campinas onde cresceu, até seus anos na faculdade, onde superou graves lesões que poderiam ter acabado com a carreira de muitos, conquistando o seu lugar entre os melhores de todos os tempos da UCF e entrando merecidamente no livros dos recordes da universidade. E aqui vai algo sobre pessoas com espírito pioneiro: elas têm que se esforçar muito, mais do que todo o resto. Quando você é o primeiro a tentar algo, os holofotes estão sempre apontados para você. Parece que você nunca pode parar de dar o seu melhor e provar pras pessoas que aquilo é possível. Aline não só provou pra todos o quão talentosa ela é, mas também, junto com todas da seleção brasileira, inspirou milhares de jogadores de gerações mais novas, motivando-as a correr atrás dos seus sonhos. Como uma americana fã de futebol, se você tiver a chance de assistir um jogo do Brasil com Brasileiros, eu realmente recomendo. A paixão cresce, o rápido português vai ficando cada vez mais alto e a empolgação aumenta a cada jogada. Brasileiros exalam felicidade. Eu me lembro de uma tarde em meados de Junho de 2015, assistindo o Brasil na TV, durante a fase de grupos da Copa do Mundo. A vida estava boa em Marina Del Rey: três amigas descansavam no sofá, taças de vinho nas mãos, comendo "chips" com hommus. O telefone da Aline continuava ocupado com mensagens atrás de mensagens sobre o jogo. E eu enchendo o saco dela porque ela deveria estar no gol do Brasil e não se divertindo com a gente. Ela sorriu, mas pareceu refletir sobre o assunto. Eu esperava esse tipo de humildade da parte dela. Mas naquele momento, eu percebi que seus sonhos começaram a renascer. Quanto mais Aline refletia sobre a possibilidade de retornar aos gramados, mais alta foi ficando a voz da sua intuição, batendo na porta e alertando que a sua carreira de jogadora ainda não havia acabado. E superando seus próprios medos, ela teve que decidir se lutaria para que se seus sonhos se tornassem realidade ou não. Eu sou tão grata por ela ter acreditado que sim! Uma salva de palmas pra você Aline. Obrigada por nos ensinar como honrar o que estamos destinados a fazer e a nunca desistir dos nossos sonhos. Autora: Caroline Carter Bond
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AuthorGoleira da Seleção Brasileira de Futebol Feminino - Atleta Olímpica, Rio 2016 ArchivesCategories |